Cooperativas agropecuárias estão transformando o setor, impulsionando produtividade, sustentabilidade e inclusão social.

João Paulo Monteiro

O cooperativismo tem se consolidado como pilar fundamental do agronegócio brasileiro. São mais de 1.100 cooperativas do ramo aqui no País, o que representa aproximadamente 54% da produção nacional. Os dados do Sistema OCB, a Organização das Cooperativas do Brasil, confirmam como o modelo se alinha perfeitamente à produção agropecuária. “O cooperativismo é o maior aliado da agricultura brasileira”, segundo Márcio Lopes de Freitas, presidente da entidade.

 

Os benefícios dessa simbiose vão desde condições vantajosas para a aquisição de insumos até a comercialização da produção. Além disso, o cooperativismo transcende a esfera econômica e impacta positivamente no âmbito social ao promover assistência técnica e formação profissional qualificada.

 

Ao levar informação e exercer uma ação inclusiva no campo, o cooperativismo se destaca como uma força transformadora e impulsionadora do desenvolvimento agropecuário no Brasil.

 

A presença expressiva de um corpo técnico altamente especializado nas cooperativas agropecuárias é destacado por Márcio. São mais de 9 mil profissionais qualificados nas áreas de engenharia agronômica, medicina veterinária, zootecnia e outros campos relevantes.

 

Além de difundir informações, tecnologia e conhecimento, o departamento técnico das cooperativas desempenha papel central ao incentivar e promover pesquisa e inovação, direcionando resultados positivos para os negócios dos cooperados e, consequentemente, impulsionando o crescimento como um todo.

 

Dados revelados pelo último Censo Agropecuário realizado pelo IBGE enfatizam a relevância do sistema cooperativista no acesso a serviços de assistência técnica e extensão rural.Enquanto apenas 20,2% de todos os agricultores brasileiros recebem esse tipo de suporte, impressionantes 63,8% dos cooperados têm acesso a esses serviços. “Isso mostra a relevância do sistema cooperativista em levar aos seus cooperados prosperidade econômica, social e ambiental”, confirma Márcio.

 

Márcio Lopes de Freitas, presidente executivo da OCB.

Márcio Lopes de Freitas, presidente executivo da OCB.

 

Essa função ganha ainda mais importância diante do fato de o agro enfrentar constantes oscilações e variáveis imprevisíveis. Ou seja, o cooperativismo proporciona segurança e previsibilidade.
Como detalha o presidente do Sistema OCB, as cooperativas têm a capacidade de mitigar as oscilações econômicas e dificuldades comerciais; e isso se dá por uma série de motivos: desde ganhos de escala até maior poder de comercialização, passando por transporte e armazenagem.

 

Em síntese, o modelo possibilita a otimização de recursos e o aumento do potencial de cada propriedade. A análise parte do gerente Executivo de Estratégia e Inovação da Frísia Cooperativa Agroindustrial, Auke Dijkstra Neto. “Conseguimos potencializar as áreas, aumentando produtividade, reduzindo custos e organizando procedimentos, tudo isso com respeito ao meio ambiente, colaboradores e a legislação vigente”, resume.

 

João Marques Pereira Neto, presidente da Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce, segue na mesma linha e reforça as diferenças em relação ao modelo mercantil tradicional.

 

“Os resultados retornam integralmente aos seus produtores. Toda a atividade de uma cooperativa existe para atender exclusivamente as necessidades dos cooperados”, afirma. Como parte de uma cooperativa, os produtores têm acesso a produtos e serviços de qualidade e com condições competitivas mais acessíveis, acrescenta João Marques.

O exemplo da Cooperativa Agropecuária Vale do Rio Doce é emblemático, garante o presidente. “70% dos cooperados são micro ou pequenos produtores rurais”, ele confirma. O dado demonstra a capacidade do cooperativismo em favorecer aqueles que, individualmente, poderiam enfrentar maiores desafios no mercado.

 

Esse é o mesmo desafio da Frísia. Para assegurar a competitividade dos pequenos e médios, a cooperativa compreende a importância de olhar para  além da porteira. Questões como logística, crédito e comercialização são elementos essenciais, destaca Auke. Assim, a integração com os cooperados, o foco na qualidade e a diversificação de canais de comercialização, dentre outros, reforçam o compromisso da Frísia em se manter competitiva e relevante.Nesse escopo, a comunicação e o compartilhamento de informações são relevantes e fundamentais no desenvolvimento da cooperativa ao longo de sua história quase centenária.

 

Para promover a troca de experiências e o desenvolvimento contínuo, a Frísia realiza diversas iniciativas, como feiras nacionais, workshops, apresentações e palestras com especialistas do mercado.

 

A expansão da atuação da Frísia para o Tocantins desde 2016 exemplifica, informa Auke: “Estamos produzindo muito bem no Estado e devemos isso a um trabalho de levantamento de dados e informações da região. A informação é componente fundamental para a evolução da nossa cooperativa”.

 

No cenário empresarial contemporâneo, a eficiência de um negócio vai além da intuição e experiência dos gestores. Com o avanço da tecnologia e o acesso a novas ferramentas de análise, as tomadas de decisões embasadas em informações têm se tornado um diferencial estratégico. Ciente disso, a Cooperativa Vale do Rio Doce investe “poderosamente” nessa área, conta João Marques.

 

Como ilustra o executivo, a empresa conta com plataformas como o Sistema ERP Totós, ERP Datasul, Sistema Gescopear e SmartQuestion. Essa abordagem tecnológica permite o aprimoramento não apenas da eficiência operacional, como também dos processos internos, além de facilitar o compartilhamento informações entre os cooperados.

 

É evidente, portanto, como o cooperativismo se preocupa realmente com todos os elos da cadeia produtiva. Questões como logística, crédito e comercialização são uma realidade no dia a dia dos cooperados, independentemente do porte das, propriedades, conta Márcio Lopes.

“Para pequenos, médios e grandes produtores rurais cooperados se manterem competitivos é importante olhar para o antes e depois da porteira, sem
esquecer das boas práticas de produção, garantindo eficiência na compra de insumos, bem como na venda das produções, assistência técnica, capacidade de armazenagem e agroindustrialização”, sintetiza o presidente da OCB.

 

Evolução coletiva

 

O agro brasileiro segue em constante transformação, impulsionado por inovações em todas as etapas da cadeia produtiva. Nesse contexto, as cooperativas agropecuárias também se destacam como verdadeiras protagonistas na difusão e incorporação de tecnologia e conhecimento. Para entender como as cooperativas garantem a adoção efetiva dessas inovações por parte dos cooperados, o presidente do Sistema OCB compartilha insights sobre as estratégias e ferramentas utilizadas.

 

Segundo Márcio, uma das principais ferramentas é a realização de feiras agropecuárias. Além de fomentar negócios, esses encontros estimulam o diálogo e a inserção de produtores de diferentes portes nas inovações, incluindo parcerias com startups em todo o País.

 

O relacionamento de confiança entre os cooperados e o quadro especializado de profissionais das cooperativas é outro pilar crucial para a incorporação bem-sucedida da tecnologia e inovação. “A assistência técnica promovida pelo cooperativismo tem um olhar focado não somente nos resultados da cooperativa, mas também no resultado do cooperado, dono desse negócio coletivo e que, quando estabelecido em bases sustentáveis, consegue também trazer resultado para a cooperativa”, acrescenta o presidente.

 

A revolução digital também tem contribuído para a difusão e absorção de tecnologias. Atualmente, as cooperativas têm desenvolvido plataformas online que permitem a comercialização de produtos, difusão de conhecimentos técnicos, aprimoramento e formação especializada, completa Márcio.

 

A Digital Agro, da Frísia, é um bom exemplo, pois vai além da feira tradicional. Como detalha Auke, trata-se de uma plataforma que engloba portal de notícias, sistema de identificação de projetos de startups e captação de ideias dos colaboradores. “Esse conjunto tem como base a inovação no campo e nas ações da cooperativa, com um trabalho que valoriza iniciativas que possam aumentar a produtividade da cooperativa e dos cooperados”, resume o gerente executivo de Estratégia e Inovação.

 

Passando para a Cooperativa Vale do Rio Doce, como conta João Marques, a inovação é uma constante. Dentre diversas iniciativas, uma chama a atenção. Iniciado em 2014, o Crê$er Genética FIV foca o melhoramento genético, explica o presidente:

 

“Esse projeto deu a instituição o título de ‘democratizadora da genética bovina’ no país e até no exterior, ao possibilitar o acesso à fertilização in vitro para micro e pequenos produtores, procedimento que, por métodos convencionais, são inacessíveis”. Além deste, Crê$er Educação, Crê$er Leite, Programa Mais Leite Saudável, AT&G (Assistência Técnica e Gerencial) e o Educampo completam a carteira de projetos. “A razão de existir da instituição é o desenvolvimento intelectual, técnico, financeiro e social dos cooperados”, garante João Marques.

 

Ao promover estratégias que incluem inovação tecnológica, integração de práticas sustentáveis no campo e assistência técnica focada no sucesso do cooperado, o cooperativismo se posiciona como um modelo de negócios mais humano, comprometido com o bem-estar das pessoas e a preservação do meio ambiente. “Quando falamos em desenvolvimento sustentável, o cooperativismo agropecuário está totalmente alinhado com as diretrizes ESG”, garante Márcio Lopes. Ou seja, com um olhar no coletivo, o modelo foca não somente no retorno econômico, mas também nas pessoas, aspectos ambientais, sociais e de governança.  Para Auke Dijkstra Neto, o modelo é um caminho seguro para fortalecer o agronegócio brasileiro. “O cooperativismo é democrático nas decisões, organizado nas ações e eficiente nos resultados e sempre procura uma produção mais sustentável, o que dá segurança aos cooperados e colaboradores”, conclui o gerente da Frísia.

 

E, por fim, João Marques vai além. Na visão do presidente da Cooperativa Vale do Rio Doce, o modelo é o único capaz de produzir resultados e rentabilizar a atividade sem perder o jeito humanizado no trato com as pessoas. “Digo isso não apenas pela nossa cooperativa, mas por acreditar no modelo em nossa cidade, Estado, País e nos demais 150 países que têm o cooperativismo como sua mais pujante mola propulsora do progresso”.

Fonte: Revista Feed&Food